Agentes de Duas Caras
“O agente de duas caras, homem ou mulher, pode ser definido como uma criatura que espiona tanto para um país como para outro. É óbvio que um agente de duas caras dificilmente pode ser identificado. Além de ser o mais perigoso e o que mais danos pode causar, é também o que maior utilidade desempenha. Tudo depende da parte em que fixa as suas convicções individuais.
Cabe ao Serviço da Contra-Espionagem estudar o caso e encontrar a resposta. Para se ter plena certeza de que o agente trabalha para si ou para outrem. O agente da contra espionagem precisa possuir qualidades psicológicas excepcionais, que o habilitem a remover o invólucro exterior e extrair do indivíduo o seu interior, isto é, seus sentimentos e convicções básicas.
Exemplo: certo agente alemão, apanhado pelos Aliados durante a última guerra, jurou que havia sido obrigado a cumprir aquela missão, quando seu verdadeiro desejo era o de cooperar com os Aliados espionando para eles, contra seus prévios salvar sua pele. Dr. Johnson disse que não há nada mais eficaz para fazer alguém voltar à razão do que a idéia do enforcamento na manhã seguinte. Qualquer espião, ao perceber que a única oportunidade que tem para fugir à execução é a confissão, é capaz de jurar perene fidelidade àqueles que o capturaram. Um homem, nas vésperas da execução, é capaz de exprimir sentimentos que nunca supos ter. Acontece também que um espião, quando é preso, se convence do que diz e procura agir como pensa, espionando para o outro lado. Decifrar a verdade constitui uma das partes mais difíceis do problema.
(…) Cabe ao investigador assegurar-se bem do seu homem. Se existir a menor sombra de dúvida, então o agente suspeito deverá ser tido como um dos mais perigosos elementos. Se a sua culpabilidade puder ser julgada pelo tribunal, o suspeito deverá ser executado imediatamente. Se a sua culpabilidade não puder ser aquilatada completamente, deverá ser mantido preso enquanto perdurarem as hostilidades. Nunca deverá ter a oportunidade de encontrar-se com os que o capturaram. Na guerra, a vitória vai para o lado daqueles que cometerem menos erros. Acreditar num agente de dupla cara, que não foi devidamente identificado, é cometer um grande erro capaz de consequências fatais”.
É natural que a triagem de um agente assim requer mais tempo e maior concentração. As vezes, são precisos dias e até semanas para a sua completa identificação. Todos os pontos precisam dias e até semanas para a sua completa identificação. Todos os pontos precisam ser estudados e reestudados: e tudo isso leva um tempo enorme. Cabe ao interrogador estudar o processo mental do suspeito e chegar à sua verdadeira ideologia.
Para obter isto, o investigador deve observar o suspeito em todas as horas do dia e da noite, acordado e dormindo. Deve agir como se fosse a sua sombra, vigiando continuamente os seus menores atos. É uma tarefa que exige um esforço físico e mental muito grande e representa, acima de tudo, um profundo conhecimento da natureza humana e suas reações.
Fonte: texto extraído livro do autor: Coronel Oreste Pinto