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Crime organizado

As elites brasileiras hoje, assistem atônitas à escalada do narcotráfico e da “indústria” de sequestros, mas ainda tentam encará-los sob um prisma policial, recusando-se a perceber suas raízes estruturais.

A explosão do crime organizado é o contraponto do fato de estar a maioria da população excluída do Brasil do primeiro mundo, o Brasil das classes média e alta. O crime organizado constitui uma forma perversa pela qual uma parcela dos excluídos apropria-se de um fluxo de renda proveniente das elites.

O narcotráfico e, certamente, o exemplo limite da situação descrita. Ele permite o surgimento, entre os excluídos, de uma burguesia do crime, que às custas da saúde dos consumidores de drogas, chega mesmo a constituir um Estado paralelo, o qual possui a capacidade de se imbricar com o Estado oficial, corrompendo-o.

Na Colômbia, no Peru e na Bolívia, o narcotráfico explodiu tendo a pobreza absoluta como uma forma de redenção econômica, de elevação dos indignos padrões de vida. O Brasil corre o risco de seguir o mesmo caminho.

Hoje, os meninos das favelas dos nossos grandes centros urbanos classificam os moradores dessas comunidades em dois grupos: os perdedores, aqueles cuja saúde deteriora-se no trabalho pesado sem que consigam superar o limiar da miséria, e os vencedores, os criminosos que enriquecem em detrimento da integridade física das elites oficiais. Estes acabam sendo, nessas comunidades, alvo de admiração, o que procuram acentuar através de algumas ações assistencialistas, dirigidas a multidões acostumadas a serem totalmente ignoradas pelo Poder Público. Assim, é devido às distorções do modelo econômico e à negligência do Estado oficial que se constitui e se legitima o Estado paralelo do crime organizado.

…. A criminalidade em geral e, em particular, o narcotráfico e a “indústria” de sequestros seguirão, nos grandes centros urbanos brasileiros, o  rastro da miséria e do subemprego. O aumento da repressão policial não conterá o processo, podendo mesmo, em alguns casos, torná-lo ainda mais violento. A única solução é a revisão estrutural dos mecanismos de exclusão social.

Fonte: ENAP