Visão Sistêmica
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Ter visão sistêmica implica trabalhar em equipe, e não em bando, ou sem grupo apenas. A equipe é um conjunto de pessoas que se aplicam a um trabalho.
Um sistema é um conjunto de partes interdependentes que atuam visando a um objetivo comum. As partes podem ter objetivos bem-definidos e nenhuma liberdade para ação individual, como nos sistemas mecânicos, ou exercerem a sua vontade, seguindo ou não os papéis que lhes foram destinados, como nas organizações humanas. … a luta pelo poder individual leva, no limite, à destruição da organização como sistema humano.
Uma orquestra é um exemplo de sistema. Não há necessidade que cada membro da orquestra seja o melhor do mundo, mas que atue em harmonia com os outros membros, sob a liderança do maestro.
As equipes de futebol constituem exemplos corriqueiros de sistema. O astro, por melhor que seja, precisa estar em sintonia com o conjunto, para que sua ação faça diferença. Alguns jogadores não são dotados da habilidade corporal-cinestésica do craque, mas têm o papel fundamental de aproveitar as oportunidades, e mesmo quando fazem gols de “canela”.
No Brasil, é particularmente relevante prestar atenção nas escolas de samba. Nelas, um operário pode liderar um presidente de empresa, e conduzir a equipe à vitória, após meses de intenso trabalho cooperativo. Todos os ingredientes necessários à obtenção de qualidade, para a satisfação do cliente, e produtividade, para economizar recursos escassos, estão presentes nos ensaios e nos desfiles.
A sobrevivência da organização depende de ações coordenadas e harmônicas das pessoas que a compõem. Para administrá-la, é preciso que haja uma missão forte, capaz de tocar os corações, e visões do futuro compartilhadas.
Objetivos de curto, médio e longo prazos são necessários, tendo como referência os desejos de consumidores volúveis. Itens de controle, ou indicadores de desempenho bem-definidos, devem ser escolhidos para se monitorarem os resultados. Padrões operacionais – a receita do bolo – devem ser elaborados e seguidos para que a qualidade seja garantida, mesmo que seja ruim.
Ter visão sistêmica implica trabalhar em equipe, e não em bando, ou sem grupo apenas. A equipe é um conjunto de pessoas que se aplicam a um trabalho. Na equipe não se dá atenção apenas às tarefas mas, sobretudo, às relações entre as pessoas. A equipe mantém a sua união pela confiança mútua, amizade e solidariedade. O mais forte abdica-se da ostentação uma tarefa adequada, na qual possa dar o melhor de si. Cada membro da equipe contribui para a coletividade com aquilo que tem de melhor.
Ter visão sistêmica implica, também, procurar conhecer, não detalhadamente quanto possível, a influência das variáveis que afetam significativamente os resultados do sistema a curto e longo prazos. Sabemos que 80% dos resultados podem ser creditados a 10% das variáveis, sendo esse tato um alerta para se aplicar a atenção, primariamente, nas variáveis mais importantes para compreender o sistema e controlá-lo num primeiro momento. Aperfeiçoar o controle exige aprofundamento posterior no conhecimento das muitas variáveis restantes que, entretanto, só afetam, pequena parte dos resultados. Nisso, porém, poderá estar a vantagem competitiva em relação co concorrente.
Os sistemas abertos, como as organizações humanas, são dinâmicos e não podem ser tratados c Omo se fossem estáticos; daí a necessidade de interferir nele com conhecimento de causa e de olho no futuro.
Peter Senge no livro “A Quinta Disciplina”, afirma que o CCQ – círculos de controle de qualidade – morreu nos EUA por falta de visão sistêmica do empresariado americano. O mesmo pode ter acontecido no Brasil, e poderia acontecer ainda com o movimento nacional pela qualidade, se a visão sistêmica for desprezada.
Por meio da visão sistêmica, fica fácil compreender o porque de se levar em consideração, de forma equilibrada, as necessidades dos clientes, dos empregados, dos acionistas e da sociedade em geral. Não fazê-lo poderá estar associado a três grandes possibilidades: a ética da esperteza, saúde mental deficiente ou falta de conhecimento.
Fonte: João Martins da Silva – autor do livro “O Ambiente da Qualidade”.