Exercício de Guerra a Prática Terapêutica
Conta-se que, certo dia, o mestre taoísta chinês Chang San Feng foi acordado por ruídos de animais do lado de fora de sua cabana. Ao chegar à janela, deparou-se com uma serpente e uma águia. Em seu voo, o pássaro avistara a cobra e descera para capturá-la a fim de se alimentar. Impassível, Chang assistiu àquela luta e viu, depois de algum tempo, os animais abandonarem a contenda sem que houvesse vencedor.
Na verdade, houve um grande vitorioso naquele dia: a milenar cultura chinesa. A partir da observação detalhada dos movimentos alternados de ataque e defesa da serpente e da águia, o mestre taoísta começou a desenvolver o Tai Chi Chuan, arte marcial que acabou sendo incorporada pelos militares da China como exercício de guerra.
Não se sabe se o episódio é verdadeiro ou uma antiga lenda. Mas uma coisa é certa: os chineses nunca criam algo do nada. Eles baseiam sua cultura e sua filosofia na natureza. Por isso, com o tempo, foram incorporadas ao Tai Chi representações de posturas e de movimentos de animais como a garça, o tigre, o urso, o macaco e o cervo, os quais estão ligados aos cinco elementos da cultura chinesa: fogo, água, terra, madeira e metal.
Com o passar do tempo, os chineses perceberam que aqueles movimentos, feitos com suavidade e associados a um exercício respiratório, proporcionavam aos praticantes equilíbrio físico e mental, que é, em essência, a receita para a saúde de qualquer pessoa. Assim, o Tai Chi Chuan se transformou em uma espécie de prática terapêutica.
Pesquisa realizada pelo Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), revela que, de todas as artes terapêuticas, físicas e mentais, o Tai Chi Chuan é a mais suave e fácil de ser aprendida. Seu poder de rejuvenescimento físico e mental tem sido comprovado. Mas os chineses descobriram uma coisa ainda mais importante: praticado em movimentos lentos, o Tai Chi Chuan é, também, uma eficiente técnica de meditação, o que traz como benefício o combate à ansiedade e, consequentemente, a paciência.
A base do Tai Chi Chuan é o taoísmo, tradição filosófica e religiosa originária da China que enfatiza a vida em harmonia com o “Tao”. Este termo chinês significa “caminho”, “via” ou “princípio”, e também pode ser encontrado em outras filosofias e religiões chinesas. No taoismo, especificamente, o termo designa a fonte, a dinâmica e a força motriz por trás de tudo que existe. A principal obra do taoismo é o Tao Te Ching, livro conciso e ambíguo que contém os ensinamentos atribuídos ao filósofo Lao Zi.
Fonte: Revista Visão Apsef – Ed. Abril/14