Obtenção de Dinheiro, Armas, Explosivos e material Radioativo
Não seria difícil para membros de uma organização terrorista a obtenção de dinheiro, tanto de forma lícita quanto ilícita, sem chamar a atenção dos órgãos que fiscalizam a movimentação financeira no Brasil.
A institucionalização velada do “jogo do bicho”, contravenção aceita e praticada abertamente em todo o território nacional, é apenas um dos vários exemplos que podem ser citados quanto a este aspecto.
Outro ponto que merece destaque é a possibilidade de uso de instrumentos informais para a transferência de dinheiro, como a hawala. Esta prática, que mesmo sendo informal é bastante confiável, permite a transferência de dinheiro entre diferentes países sem nenhuma transação bancária, sendo virtualmente impossível de se detectar.
Vale lembrar que, diferentemente das ações do crime organizado, os atentados terroristas tem custos muito baixos, podendo mesmo ser considerados baratos em relação ao dano que potencialmente podem provocar. Isto possibilita, inclusive, que as transações financeiras entre agentes de um mesmo grupo ocorram muitas vezes por meios legais.
Deve-se mencionar ainda a questão do financiamento de atividades terroristas por meio de doações (Zakat), mecanismo comum entre os grupos fundamentalistas islâmicos.
Facilidade para obtenção ilegal de armas e explosivos
A aquisição de armas de fogo de uso restrito pode ser considerada relativamente fácil no Brasil, principalmente ao se considerar eventuais interações entre grupos terroristas e facções do crime organizado, e ainda a extensão e permeabilidade de nossas fronteiras. Explosivos, granadas e outros dispositivos militares também são encontrados nas mãos de criminosos, quase sempre provenientes de furtos ocorridos nos próprios quartéis.
A mídia tem noticiado com freqüência o uso de explosivos em assaltos a caixas eletrônicos em vários estados do Brasil. Em praticamente todos os casos o explosivo utilizado é a dinamite, a qual vem sendo obtida por meio de uma série de furtos praticados contra pedreiras e mineradoras em todo o País.
Deste modo, percebe-se que não haverá dificuldade para que agentes terroristas obtenham o material necessário para a realização de um eventual atentado no Brasil.
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Possibilidade de obtenção ilegal de material radioativo
Embora não consideremos neste estudo a possibilidade de emprego de armas nucleares, não descartamos o uso de material radioativo com o objetivo de aumentar o poder lesivo de bombas convencionais, ou seja, das chamadas “bombas sujas”.
A Polícia Federal já identificou quadrilhas atuando no norte do Brasil com a extração clandestina e o comércio ilegal de minerais radioativos (entre eles o urânio) que estavam sendo remetidos ilegalmente para fora do País.
À época, as investigações apontaram que o minério estaria sendo levado para países como a Rússia e a Coréia do Norte. Havia ainda a suspeita de que o contrabando estivesse sendo enviado a grupos terroristas islâmicos.
As investigações também apontaram para o possível envolvimento de autoridades públicas, inclusive parlamentares, com os criminosos que atuavam no tráfico de material radioativo.
Considerando que a ideologia de determinadas redes terroristas preceitua justamente a eliminação do maior número possível de pessoas em seus atentados, e que o uso de material radioativo na confecção de “bombas sujas” permitiria alcançar este objetivo, esta possibilidade não pode ser descartada na elaboração de uma análise de risco em que a ameaça principal consista, precisamente, em um ataque terrorista.
Fonte: Maurício Viegas Pinto – Tribunal de Justiça/DF/Territórios