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Teoria do Conhecimento

Resultado de imagem para foto de conhecimentoGerenciar significa fazer previsões e projeções são feitas com base em teorias, mesmo que inconscientemente. É preciso estar consciente da teoria na qual a prática se baseia, para mudá-la na hora certa e fazer os necessários ajustes.

Quando  não se está consciente da teoria sobre o porque (causa) de um  resultados, perde-se o controle da situação quando mudam as variáveis intervenientes.

Exemplo: certo peru tinha uma teoria muito ingênua sobre como ganhar a vida. Todos os dias, durante meses, ele foi alimentado de graça, sempre no mesmo horário. Ele assumiu a teoria de que poderia viver sem trabalhar, pois alguém cuidaria dele enquanto vivesse. Sua certeza durou até uma certa noite de Natal, quando foi sacrificado.

Essa estória foi usada por Bertrand Russel, célebre matemático e filósofo, para ilustrar a postura do indutivista ingênuo, que não questiona de forma crítica a teoria sobre a qual uma prática se sustenta, tornando-se uma vítima despreparada para se defender.

É preciso estar atento às teorias ingênuas. centradas em crenças ou convicções pessoais de origem obscura. Essas crenças determinam a conduta de muitas pessoas com elevado grau de instrução.

Alguns estudantes contaram-me sobre algumas “teorias” que lhes foram transmitidas por professores, profissionais, empresários e sindicalistas muito experientes:

– entre os “peões” da construção civil aqueles de calcanhares grossos são os mais preguiçosos.

– a vida é uma selva, portanto, cuide de si mesmo e esqueça o resto,

– deve-se selecionar para trabalhar em mina subterrânea em função da força física e da debilidade mental. Quando mais forte e mais burro, melhor.

– nunca se deve elogiar um trabalhador, pois ele passa a fazer corpo mole;

– mesmo que a empresa lucrativa, ela não pode pagar um salário digno, pois tem que obedecer às leis do mercado. Aqui vale lembrar que Henry Ford, no início do século, detonou essa lei com grande proveito para a lucratividade da Ford.

– que é bom para o patrão é sempre ruim para o empregado.

– o TQC japonês não presta porque não está fundamentado numa teoria consistente;

– esse negócio de preocupação com qualidade é coisa de primeiro mundo. No Brasil, a realidade é a miséria mesmo.

As “teorias” acima norteiam a vida de muitas pessoas responsáveis pelo gerenciamento e educação de outras pessoas. Algumas delas são convicções profundas e irracionais que só podem ser combatidas com fatos e dados que as contradigam de forma gritante, ou pela pressão da sociedade esclarecida, quando delas decorrerem danos sociais. Enquanto existir alguém sem conhecimento, submetido a influência de pessoas assim, haverá escravidão.

Quando uma cozinheira excelente, mesmo sendo analfabeta, mistura certos ingredientes. numa certa ordem e os processa na panela, ela está baseada numa teoria sobre como fazer um bom prato. Ela criou uma receita, ou padrão. A cozinheira criativa faz pequenas melhorias de sua receita. acrescentando, retirando, ou variando a quantidade de alguns ingredientes. Se funciona melhor de uma maneira diferente, ela padroniza o procedimento; se não funciona, ela volta à situação anterior. Ela se baseou, instintivamente, em teorias.

Nas organizações costuma-se agir de forma bastante aleatória; em linguagem popular, “ao Deus dará”. Às vezes, costuma-se desdenhar daquilo que é teórico, em função do prático. Entretanto, se por prático está-se querendo dizer “por a mão na massa, sem conhecimento de causa” a organização se transformará num verdadeiro caos. Sem padrões, sem referências, cada um faz o que quer e o que pode. E as coisas pioram sempre.

No momento em que se trabalha, sistematicamente, com o conceito de causa e efeito, padronizando os procedimentos e mudando-os de forma controlada, pode-se garantir a qualidade de um produto, mantendo-a constante dentro de certos limites, ou alterá-la para melhor. Adquire-se controle da situação. Essa postura exige audácia para enfrentar problemas nunca vividos antes mas, a partir do momento em que se enfrenta uma situação nova ela deve passar a incorporar a base de conhecimento pessoal e da organização: deve-se ter coragem de cometer o primeiro erro para não cometê-lo sempre.

Quando ensinamos alguém sem ter uma teoria sobre o processo ensino-aprendizagem, e o fazemos de forma aleatória, podemos estar perdendo tempo e energia. Quando copiamos um sistema gerencial que funciona em outro país ou organização, sem ter uma teoria válida sobre as relações de causa e efeito que predominam no contexto, podemos cometer erros grosseiros. Entretanto, se estivermos atentos, faremos experiências controladas e superaremos os maus resultados.

Exemplos de ação sem visão sistêmica, com base em teorias falsas, tem afetado profundamente algumas organizações que cortam quadros de pessoal de forma impensada, destruindo a lealdade das pessoas que ficam. Em algumas delas, a economia conseguida na extinção de cargos de auditores gerou, posteriormente, milhões de dólares em roubos internos. Em outros casos, com o corte de pessoal no setor de manutenção preventiva e preditiva, geraram-se aumentos gritantes nos custos de manutenção.

Não é necessário, em possível, conhecer a realidade nos seus mínimos detalhes para agir. Mesmo que uma excelente cozinheira desconheça os fenômenos químicos envolvidos no ato de cozinhar, ninguém a trocaria por um Doutor em química, sem experiência culinária. É necessário, entretanto, conhecer os fatores causais que fazem resultar o bom efeito desejado. É necessário, também, buscar novos conhecimentos para a continua melhoria dos processos existentes ou para a sua substituição por processos baseados em novos princípios. Como dizia Deming, “O conhecimento é insubstituível”.

 Fonte: João Martins da Silva